segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Frei Hermano da Câmara na Arena d'Évora esta sexta-feira



Falar de Frei Hermano da Camara é pretender que as palavras definam, na sua limitada capacidade sugestiva, a ideia de uma personalidade transcendente. E, se o termo pode assustar alguém, apresso-me a acrescentar que só deste modo consigo situar a atitude de um homem que, lucidamente, nos dias de hoje, se mantém fiel a um ideal que o avassalou. Porque é cada vez mais fácil perfilhar ideais, quaisquer que sejam, a dificuldade está em se submeter depois às consequências, às exigências da prática decorrentes dessas ideias. E se outra razão não houvesse, esta parece-nos suficiente para ser credora da nossa maior admiração.

A trajectória deste homem que “deixou tudo para seguir a Cristo” foi um acontecimento notável que deixou um rasto de espanto e admiração. Ficou meio mundo em suspenso quando Frei Hermano decidiu abandonar uma vida, que a todos os títulos lhe proporcionaria prosperidade, e uma carreira artística que se adivinhava promissora, a avaliar pelo disco com que nos legou esse imperecível êxito da música portuguesa que se chama “ Fado da Despedida”.

Esta atitude corajosa é indício do carácter nobre de Frei Hermano da Camara. A sua felicidade parecia, curiosamente, estar acima de todos os dons com que a natureza o dotara, ele que tivera um alto nascimento e vivia rodeado de bens terrenos. O triunfo não o tentou e alegremente desceu ao anonimato da sua cela conventual, longe de tudo aquilo que tinha sido a sua vida até então.

Esse gesto, por demasiado incompreensível, gerou à sua volta as mais desencontradas reacções. Atribuíram-lhe os mais variados significados; a imaginação popular, facilmente impressionável, agiu romanticamente e preferiu atribuir-lhe como causa um grande amor contrariado.

Poucos perceberam então que o misticismo que habitava a alma desse jovem só podia abrigar-se no recolhimento e na oração. E assim foi.

Durante alguns anos, o silêncio cobriu o nome daquela voz que deixara uma saudade dorida e um grande respeito pela sua determinação.

Frei Hermano manteve sempre aquela capacidade de transmitir a todos uma paz serena aliada a uma alegria muito saudável de viver.

O desejo de regresso à vida artística só foi assumido pelo monge-cantor quando, em consciência, admitiu que devia colocar a sua voz e o seu talento de compositor ao serviço da Igreja.

Cantaria sim, desde que isso resultasse numa forma de apostolado, devolvendo a Deus os atributos que Este lhe tinha concedido. Só assim se deixou convencer. A sua voz ao serviço da causa de Jesus Cristo. Da causa dos homens que precisavam de conforto, e a quem Frei Hermano podia ajudar, como se tem comprovado.

E é a convicção do que diz cantando, a certeza de pisar o único caminho possível para si, a segurança de o estar a fazer em nome de uma causa universal e justa que dão à sua presença aquele magnetismo e à sua voz o efeito do bálsamo tranquilizante para as almas angustiadas dos homens dos nossos dias que somos todos nós.

Tudo quanto temos dito acerca de Frei Hermano da Camara são pequenas contribuições para definir esse fenómeno que tem muito de transcendente, como começamos por dizer.

O homem que é artista e na sublimação dessa arte se entrega à tarefa de entre todas gratificante, de uma doação completa ao seu semelhante.

E a consciência dessa responsabilidade foi perfeitamente assumida pelo artista, durante a edição do trabalho em que a sua capacidade criativa se manifestava através da composição de fados e canções com o seu indefinível estilo que é o segredo do seu sucesso, mas sem a concessão à facilidade gratuita.

Todos os seus autores eram, e continuam a ser, grandes vultos da nossa literatura. Miguel Torga, Pedro Homem de Melo, Mário Sá Carneiro, Fernando Pessoa, Augusto Gil, Fernanda de Castro, entre outros.

Um dia, no entanto, a sua inspiração vai mais longe. “O NAZARENO” foi a primeira obra de grande fôlego da nossa música ligeira. A envergadura deste trabalho deixou espantados críticos e público. Conseguira-se, por fim, em disco, o primeiro trabalho sério, destinado a ocupar lugar destacado na história da música portuguesa. Por outra razão esse álbum duplo constitui um marco histórico, que nessa época foi galardoado com quatro discos de ouro.

Seguiu-se-lhe a segunda obra do tríptico que Frei Hermano da Camara ambicionara publicar, dedicado a S. Bento, com título “DEUS É MÚSICA”.

Entretanto, e após a edição dos seus maiores sucessos, comemorando os 20 anos de vida religiosa, já fermentava no seu espírito a concepção de uma obra totalmente dedicada a Nossa Senhora: Tendo como ponto de partida o atentado ao Papa João Paulo II e a sua visita de agradecimento a Fátima Frei Hermano mais uma vez expandiu o seu génio artístico com a obra musical “ TOTUS TUUS” – SERENATA MÍSTICA A NOSSA SENHORA.

Após um interregno de alguns anos, Frei Hermano regressa ao lugar que sempre foi e será o seu, o de escolhido para cantar sentida e eloquentemente o mistério de Deus com a sua obra exemplar “MISSA PORTUGUESA”. É um disco para ser ouvido na terra mas com os olhos no céu.

Saudemos reverentemente o regresso de Frei Hermano com este disco que é com certeza a mais ansiada forma de plenitude que se pode esperar do seu mais digno cantor.

A importância de Frei Hermano da Camara atinge duplo significado. Ele não é só um padre que prega, à sua maneira, a mensagem da sua Igreja Católica, ele é, acima de tudo, um dos mais destacados homens da cultura musical portuguesa dos nossos dias.

A irradiação da sua obra como apostolado musical só se pode explicar pela sua vocação contemplativa de união constante com Deus.

1 comentário:

Anónimo disse...

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