domingo, 9 de abril de 2017

Casa Nobre da Rua de Avis (nº41-47)



Desconhecem-se os seus fundadores mas pertenceu, no séc. XIX, à Família Tormenta, do ramo dos Condes da Serra da Tourega e aos Morgados Paes Aleixo. É património actual do eng. Raul Veríssimo de Mira. O edifício apresenta, exteriormente, dois corpos distintos: o nobre e o do 2.° andar. Aquele tem sete janelas de sacada com soleiras graníticas, jambas e cornijas direitas, de massa, moldadas na tradição local do seiscentismo, fechadas por grades férreas de fortes vergalhões cilíndricos terminados em estilizadas campânulas, estas já de época avançada do séc. XVIII. O último andar é excrecência utilitária do século passado. No entre-solo principal, iluminado para a rua pública, existem duas salas e um gabinete totalmente revestidos de pinturas a fresco, de interesse artístico, histórico e literário, em obra datável de c.ª 1800, fortemente inspirada no estilo pompeiano ou etrusco, mas moldado ao gosto nacional. A primeira dependência, antecâmara a partir da escadaria e a mais sóbria, tem apainelados rectangulares nas sobreporias e circulares nas paredes, envolvidos com grinaldas de flores e sanefas, representados por chinoiseries, cenas galantes, paisagens e marinhas ou temas burlescos e circenses, populares. O salão nobre, imediato, de planta acentuadamente trapezoidal e o mais notável de todos, é curiosíssimo exemplar decorativo da Arte neoclássica, onde imperam os mais perturbantes elementos profano-mitológicos e quadros retabulares de personagens da História de Portugal, como os monarcas D. José e D. Maria I, os Príncipes do Brasil D. João e D. Carlota Joaquina de Bourbon, segundo cópias de retratos da galeria do arcebispo D. Fr. Manuel do Cenáculo, e em medalhões ovóides D. Nuno Álvares Pereira, Infante D. Henrique de Portugal, o Navegador, extraído da gravura de Jean Charles Baquoy, de 1758; os Vice-Reis e Governadores da índia D. Francisco de Almeida, Afonso de Albuquerque, D. Vasco da Gama, D. Nuno da Cunha e D. Henrique de Meneses; os escritores Luís de Camões e Manuel de Faria e Sousa e o célebre ministro Sebastião José de Carvalho e Melo, Marquês de Pombal. Toda a restante superfície parietal se encontra recoberta de atributos intensamente coloridos, de frisos, molduras e tabelas onde dominam retablitos guerreiros, animais fantásticos, sereias, cariátides, esfinges, centauros, faunos, querubins, grinaldas, palmetas e outros florões naturalistas. O tecto, abatido, de pequena flexa, em caixotões de estuque, tem, no eixo, grande painel de secção romboide, figurado pela Fama conduzida por Graças e lateralmente outros quadrinhos elípticos com cenas pagãs, sendo os ângulos compostos pelas quatro partes do Mundo: Europa Ásia, África e América, ornamentadas pujantemente com figuras simbólicas humanas, zoomórficas e naturalistas dos Continentes. O gabinete, a mais meridional das câmaras pintadas, está dedicado às Belas-Artes. Tem retratos de homens célebres da antiguidade clássica e do iluminado século XVIII, alegorias extraídas do Velho Testamento e da Mitologia, além de interpretações das Ciências Matemáticas, Geografia, Física, Astronomia, Artes Industriais, História, Filosofia e da Literatura, etc. O elemento natural, por outro lado, completa o revestimento a fresco, que é iluminado, no centro da abóbada pelo retábulo da Eternidade Humana: A Vida e a Morte. A sala de jantar foi ornamentada modernamente com três portados de mármores embrechados, do estilo rocócó, setecentista e provenientes de destruídas casas religiosas da cidade. São lavrados com pilastras almofadadas e empenas compostas por cartelas ovoladas e circulares ilustradas na simbologia celeste: o Sol, a Lua, Estrelas, frutos, fachos de fogo, a torre e o Anjo, a coroa marial e o emblema de AM. Um quarto portal, de mármore branco e de linhas de fantasia, com acrotérios esferóides e jambas curvilíneas ornamentadas com palmetas e acantos, dá acesso à estufa da casa, onde se aplicaram em forma arquitectural, três arcos redondos de colunas também calcárias, salomónicas e de capitéis compósitos, e nas paredes, além de pia de água benta, dois nichos apilastrados, com frontões de enrolamento, cruzes e flores de liz. Aquele, é adaptação de uma roda conventual: está datado de 1722. Estas últimas peças arqueológicas, que se diz terem pertencido à Igreja do Hospital da Misericórdia, são do estilo barroco. 

Informação retirada daqui

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